Mundano, dançarino, jogador de futebol e de ténis, e, nas horas vagas piloto: é assim que eu definia Clay Regazzoni, o brilhante, o eterno Clay, figura de honra nos eventos mundanos e fonte inesgotável para a imprensa cor de rosa.
Enzo Ferrari em Piloti che gente…
O PILOTO:
Gianclaudio Regazonni nasceu no dia 5 de Setembro de 1939 na Cidade de Lugano, Suiça, perto da fronteira com a Itália, pelo que sempre foi acarinhado pelos Tiffosi. Começou na Fórmula 1 com 24 anos e correu pela Ferrari, BRM, Shadows, Williams e Ensign, carro onde sofreu o grave acidente que o deixou paraplégico. Em 1970 disputou as 500milhas de Indianapolis com o McLaren tendo desistido por acidente.
Em 15 de Dezembro de 2006 veio a falecer depois de o seu carro ter colidido violentamente com um camião, tinha 67 anos.
O CARRO:
O 312B deveria ter sido apresentado no principio da época de 1969, mas devido a uma vaga de greves só foi apresentado GP de Itália em 1969 e a sua prova de fogo foi no GP da África do Sul em 1970.
A principal novidade era o seu motor 3000, desenhado pelo Eng. Forghieri tinha uma cilindrada de 2991cc (78,5x51,5mm) quatro válvulas por cilindro, quatro árvores de cames á cabeça e injeção indireta Lucas com uma potência de 460ch +/- ás 11500 rotações.
A caixa Ferrari de 5 velocidades. O chassis como era tradição na Ferrari era tubular reforçado com painéis de alumínio. Suspensões independentes, travões de disco Gerling e pneus Firestone para um peso de 534Kg a seco.
A mise-o-point foi demorada, mas a partir do meio da época 1970 ganharam 4 Grandes Prémios, GP Áustria, GP de Itália, GP do Canadá e GP do México.
A PROVA:
Foi em 1970. O carro era o 312B, uma jóia da técnica construído em Maranello para fazer face à supremacia inglesa que vexava o “Grande Velho”. O circuito é um dos mais fascinantes do Mundo, Monza, ainda não adulterado pelas chicanes. O evento: 42º GP de Itália. A data: 6 de Setembro. Era o meu 5º GP. A Scuderia Ferrari tinha conquistado uma bela vitória no GP da Áustria em Zeltweg: 1º J. Ickx 2º Eu. Monza agitava-se, carregada de tensão e de paixão.
Durante os dois dias de treinos, a luta foi cerrada pelas melhores posições na grelha de partida e pela conquista da “pole position”. Sem chicanes Monza exaltava as qualidades dos motores, e o 12 cilindros boxer* da Ferrari estava na sua melhor forma de sempre. Para conseguir os melhores tempos não chega potência, o equilíbrio do carro é o mais importante e para ganhar preciosos segundos o aproveitamento do cone de ar nas longas retas é muito importante. Por fim J. Ickx no Ferrari nº3 suplantou P. Rodriguez em BRM, comigo em 3º no Ferrari nº4 e em 4º o Campeão em Título Stewart no March Ford.
Os ensaios foram ensombrados pelo acidente mortal de J. Rindt ao volante do Lotus.
No dia da corrida Monza estava cheia, a romper pelas costuras, a tensão estava à flor-da-pele e o espetáculo estava assegurado…
Ickx arranca e assegura o primeiro lugar seguido pelo muito rápido BRM de Rodriguez e pelo March de Stewart, que partiu sem ailerons para melhor afrontar a supremacia dos Ferrari e BRM em velocidade de ponta. Na primeira volta já Surtees (March) tinha abandonado imitado pelo meu compatriota Siffert (BRM)… O primeiro golpe de teatro deu-se na 13º volta quando o 12 cilindros do muito rápido BRM de Rodriguez rendeu a alma ao criador. Giuntti (Ferrari) parte o motor na 15º volta para 10 voltas mais tarde Ickx ficar sem embraiagem. …com o abandono de Brabham e Peterson, restavam em pista Stewart, Beltoise (Matra), Hulme (McLaren) e Stommelen (brabham). Eu compreendi que Stewart era o homem a bater: o seu orgulho não me ia facilitar. O seu March azul estava sempre nos meus retrovisores e a 10 voltas do fim na parabólica, beneficiando do cone de ar de Stewart, Beltoise surpreendo-o e instala-se na minha traseira. Num piscar de olhos chego à dupla de Lesmo, retardei ao máximo a travagem, passei para terceira e inseri com decisão a frente do meu Ferrari no interior da curva. Neste momento os meus adversários não existiam mais, somente os espectadores que agitavam os braços ao longo da pista. Eu estava concentrado ao máximo, não podia cometer um erro. A primeira Lesmo era a mais difícil e eu a passei quase perfeito, entre as duas, 4º velocidade, saio da segunda Lesmo em plena aceleração com o carro em glissagem quase a tocar os rails de proteção. Pelos espelhos vi que o March de Beltoise com Stewart muito perto tinham perdido terreno, coloquei 4ª até ás 1250 rotações antes de passar a 5ª em direção à curva Ascari, nos meus retrovisores vejo o March deixar o cone de ar para ultrapassar o Matra, coloco-me à direita e depois à esquerda para não se aproveitarem do cone de ar, um olhar pelo espelho retrovisor e… nada..não via nada, um segundo de espanto… olhei melhor e por causa da trepidação os espelhos tinham-se partido. Mas a hora não era para hesitações. Faltavam 6 voltas, os meus mecânicos assinalaram-me “Clay+2”, não é possível explicar as minhas sensações nestas três voltas , mas foram sem dúvida as mais difíceis de todo o GP. Eu rodava sem pontos de referencia em relação aos meus adversários. Cada vez que descrevia a Ascari o espetáculo era excitante. As bandeiras esvoaçavam e a loucura era a melhor recompensa à minha cavalgada. Mas entretanto , as boxes viviam o seu drama. Uma fuga de combustível fazia temer o pior e preocupava o Eng. Forghieri . Mas as emoções não tinham acabado para mim. Em plena reta o motor faz um barulho ensurdecedor: institivamente diminui a pressão no acelerador deitando uma vista de olhos aos manômetros, nada de grave, era somente as bolas de cera de proteção do ruído que tinham caído dos ouvidos.
Por fim a bandeira de xadrez agita-se e decretou a minha primeira vitória num Grand Prix.
A invasão da pista, a loucura, a alegria que se lia nos olhos de todos confirmaram o lugar que ocupa a FERRARI no coração dos Italianos.
Tradução muito livre e resumida do artigo escrito no livro Ferrarissima nº3 pelo próprio Clay Regazzoni
* Não era um motor boxer (nota minha)
O LiVRO:
Um livro com excelentes fotografias a preto e branco que demonstram bem todo um ambiente das provas nos anos 60/70.
Une course avec Clay Regazzoni – Preisig Holtschi – Office du Livre – 185 páginas – Classificação ****
UMA MINIATURA:
Exoto Escala 1/18
Tamyia 1/12
O VIDEO:
Espero que gostem desta minha Homenagem a um piloto que viveu duas vidas.
1 comentários:
interessante
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